[...] A
verdade é que eu não acordei triste hoje, nem mesmo com uma suave melancolia,
está tudo normal. Mas quando fico triste, também está tudo normal. Porque ficar
triste é comum, é um sentimento tão legítimo quanto a alegria, é um registro da
nossa sensibilidade, que ora gargalha em grupo, ora busca o silêncio e a solidão.
Estar
triste não é estar deprimido. Depressão é coisa muito mais séria, contínua e
complexa. Estar triste é estar atento a si próprio, é estar desapontado com
alguém, com vários ou consigo mesmo,
é estar um pouco cansado de certas repetições, é descobrir-se frágil num dia qualquer,
sem uma razão aparente - as razões têm essa mania de serem discretas.
"Eu
não sei o que meu corpo abriga/ nestas noites quentes de verão/ e não importa
que mil raios partam/ qualquer sentido vago de razão/ eu ando tão down..."
Lembra da música? Cazuza ainda dizia, lá no meio dos versos, que pega mal
sofrer. Pois é, pega mal. Melhor sair pra balada, melhor forçar um sorriso,
melhor dizer que está tudo bem, melhor desamarrar a cara.
"Não quero te
ver triste assim", sussurrava Roberto Carlos em meio a outra música. Todos
cantam a tristeza, mas poucos a enfrentam de fato. Os esforços não são para
compreendê-la, e sim para disfarçá-la, sufocá-la, ela que, humilde, só quer
usufruir do seu direito de existir, de assegurar o seu espaço nesta sociedade
que exalta apenas o oba-oba e a verborragia, e que desconfia de quem está
calado demais.
Claro que é melhor ser alegre que ser triste (agora é Vinicius),
mas melhor mesmo é ninguém privar você de sentir o que for. Em tempo: na
maioria das vezes, é a gente mesmo que não se permite estar alguns degraus abaixo
da euforia. Tem
dias que não estamos pra samba, pra rock, pra hip-hop, e nem por isso devemos
buscar pílulas mágicas para camuflar nossa introspecção [...] Que nos deixem
quietos, que quietude é armazenamento
de força e sabedoria [...].
(Martha Medeiros, trechos da crônica A Tristeza
Permitida, livro Doidas e Santas)
Positividade para todos nós!
Beijos ;*
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